INCONFORMISMO QUE NOS LEVA AO COMODISMO
Assumir, hoje, o carisma de Maria significa olhar com olhos críticos e de coração inconformado para a situação em que vivemos; dizer ao homem que o remédio existe e se chama Cristo, e é só colocando-o no coração do mundo, que este pode ser transformado.
Por enquanto, há orgulhosos firmemente assentados em seus tronos ilegítimos, e há humildes aguardando sua vez de serem lembrados, reerguidos e restabelecidos em sua dignidade de filhos de Deus.
Há uns poucos ricos acumulando os tesouros da terra e as riquezas produzidas pelo trabalho, pelo suor e pelo sofrimento de muitos, e há pobres pedindo para não serem ceifados pela fome, aguardando o momento em que possam sentar à mesa da igualdade e da fraternidade.
Este é o nosso mundo, que herdamos e que precisamos aceitar e amar, apesar de tudo. Só que não podemos amar nem aceitar a situação pecaminosa em que ele foi jogado...
Infelizmente, acabamos simpatizando com o conformismo e convivendo com nossas bem conhecidas contradições: sonhar com um mundo mais justo e nada fazer para derrubar a injustiça; sonhar com um mundo mais irmão e nada fazer para acabar com a violência; sonhar com um mundo de amor e nada fazer para destruir o ódio; sonhar com um mundo que respeite e cultue a vida e nada fazer para segurar a marcha da morte.
É preciso fazer nosso o Cântico de Maria, que não nos foi transmitido só para ser proclamado em nossas assembleias dominicais, e sim para ser vivenciado por todos nós, assumindo também o programa nele contido.
Porque, enquanto permitirmos que os ambiciosos dominem a terra, enquanto ficarmos omissos perante a fome aprontada pelo egoísmo humano não teremos o direito de proclamar o Cântico de Maria.
O retrato mais expressivo de Maria no livro do Apocalipse (cap.12). Ela é a Mulher-Igreja, delegada a carregar em seu seio a frágil plantinha da fé, na forma de uma criança. É também o retrato de todas as mulheres cristãs, que ao longo dos séculos souberam guardar no coração, à semelhança de Maria, o depósito da fé em Jesus Cristo.
Do lado oposto está o dragão, símbolo de todos os poderes opressores deste mundo, com sua grandeza e onipotência, sempre de tocaia para estrangular a "criança", isto é, a semente da fé. A Mulher-Igreja, porém, por intervenção de Deus, irá sobreviver e a fé também.
Desde que foi semeada no coração humano, a partir de Abraão, a fé teve de fazer as contas com os mais variados impérios da terra: do Egito, da Babilônia, de Roma e assim por diante, até os Blocos Atômicos de hoje, o Ocidental e o Oriental...
E que os manipuladores da história devem ter percebido que a semente da fé possui força suficiente para derrubá-los e aniquilá-los. Principalmente depois que ela se tornou crença no Ressuscitado, vencedor da morte e libertador do homem.